O gato não é memória, é presença. O poema é memória do 3º ano de escola primária!
Quem se lembra de Afonso Lopes Vieira?
O GATO
O gato à sua janela,
ao sol, que brilha fulgindo,
vai dormindo,
vai pensando
e vai sonhando:
-«Ó minha linda casinha,
tu és minha, muito minha,
nem há outra melhor que ela...».
O gato à sua janela,
ao sol, que brilha fulgindo,
vai dormindo,
vai pensando
e vai sonhando:
-«Pelas noites de invernia,
quando o vento, num lamento
muito lento,muito longo,
muito fundo, de agonia,
ruge e muge,
e a chuva bate à janela,
nos vidros, fina, a tinir,
ai como é bom,
ai como é bom dormir
ao serão, todo enroscado
ao pé do lume doirado,
fazendo ron-ron, ron-ron...
Ó minha linda casinha,
tu és minha, muito minha,
nem há outra melhor que ela...».
O gato à sua janela,
ao sol, que brilha fulgindo,
vai dormindo,
vai pensando
e vai sonhando:
-«Não tenho inveja a ninguém:
nem aos pássaros do ar,
a voar;
nem aos cavalos saltando,
galopando;
nem aos peixinhos do mar,
a nadar.
Não tenho inveja a ninguém
aqui na minha janela,
onde me sinto tão bem!
Ó minha linda casinha,
tu és minha, muito minha,
nem há outra melhor que ela...».
Afonso Lopes Vieira