segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Unidade


Termina hoje a 1ª Semana Mundial da Harmonia Inter-Religiosa, a realizar em cada ano na primeira semana de Fevereiro, por resolução unânime da Assembleia das Nações Unidas. Esta crónica de Anselmo Borges, no DN de Sábado passado, dá uma lição belíssima sobre as vantagens do diálogo inter-religioso, atribui um papel especial aos ateus, nesta matéria, e apela à «eliminação de todas as formas de intolerância e discriminação com base na religião ou na crença». Mesmo que pretendam lê-la na íntegra, não resisto a transcrever o que me parece fundamental. Há coisas de que este mundo precisa "como de pão para a boca"!
«Penso que o diálogo inter-religioso tem, como aqui tenho sublinhado, vários pressupostos. O primeiro diz que, antes de sermos religiosos ou não, somos seres humanos: une--nos a humanidade comum. Outro pressuposto essencial tem a ver com a separação da(s) Igreja(s) e do Estado e o fim da leitura literal dos textos sagrados das religiões.
Os pilares desse diálogo poderiam sintetizar-se assim: 1. Embora não sejam igualmente verdadeiras, todas as religiões são reveladas e contêm verdade. 2. Nenhuma tem a verdade toda, pois todas estão referidas ao Absoluto, mas nenhuma o possui. 3. O fundamentalismo é uma questão de ignorância ou estupidez. De facto, quem é o ser humano, finito, para ter a pretensão de possuir o fundamento? 4. O diálogo inter-religioso impõe-se pela própria dinâmica religiosa: se nenhuma religião possui a verdade toda, devem todas dialogar e exercer a autocrítica. 5. Os ateus que sabem o que isso quer dizer podem dar um contributo fundamental, já que mais facilmente se apercebem da superstição e inumanidade que as religiões podem transportar.
Tomamos cada vez mais consciência do que Hans Küng há anos vem repetindo: "Não haverá paz entre as nações sem paz entre as religiões. Não haverá paz entre as religiões sem diálogo entre as religiões. Não haverá diálogo entre as religiões sem critérios éticos globais. Não haverá sobrevivência do nosso planeta sem um ethos global, um ethos mundial."»
(imagem em gamesps2.netai.net)

3 comentários:

  1. mluamiga

    Excelente ideia de citar uma excelente crónica-lição. Muitos parabéns e muito obrigado. O autor leva a água ao seu moinho de maneira interessantíssim e, até, brilhante. Tenho muitas suspeitas de que não será para amanhã, nem para depois de amanhã, em suma nem tão cedo que se atingirão os desideratos expostos.

    Costumo dizer que fui católico - mas curei-me. Porém, a Liberdade e a Democracia não têm que ver com as religiões. Aí, discordo do homem que, sendo padre, duvida da , defende uma muito maior participação dos laicos e em especial das mulheres na prática religiosa e está contra o celibato dos sacerdotes: Hans Küng. Que até conheço pessoalmente e que muito admiro.

    Porém, a separação de qualquer Igreja e de qualquer Estado, para mim é imprescindível.

    Qjs = queijinhos = beijinhos

    PS (Sou, mas aqui é Post Scriptum...) - De parte do meu Pai, a família é ribatejana. Ele, natural do Cartaxo, foi forcado nos Amadores de Santarém, quando o cabo era o António Augusto. E tinhamos casa no Vale de Santarém, vinhas, lagar, adega e por aí fora...

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  2. Do que eu gosto, em Anselmo Borges, é da clareza e frontalidade com que põe os problemas, mas também da tentativa de encontrar soluções. Acho que nada disto será a breve prazo mas é importante apontar caminhos.
    «O caminho faz-se caminhando»!

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