segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Quem quer, vai...


O APÓLOGO DAS COTOVIAS

A este ponto serve o apólogo que se conta das cotovias que tinham seus ninhos entre as searas.

Dissera o dono do campo a seus criados que tratassem de meter a foice, se vissem estar o trigo já sazonado; e ouvindo este recado uma delas, foi pelos ares avisar as outras que mudassem de sítio, porque logo vinham os segadores. Porém outra mais velha as aquietou do susto, dizendo:

— Deixemo-nos estar, que de mandar ele os criados a fazer-se a obra vai ainda muito tempo.

Dali a alguns dias ouviram que o amo se agastava com os criados, porque não tinham feito o que lhes encomendara; e que mandava selar a égua para ele mesmo ir ver o que convinha.

— Agora sim, disse então aquela cotovia astuta. Agora sim, irmãs. Levantemos o vôo e mudemos a casa, que vem quem lhe dói a fazenda.

Padre Manuel Bernardes
Pode ser diferente a escrita (fins do sec. XVII), mas a filosofia continua a mesma: espertas, estas cotovias, não?



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